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Política em Foco

Cael de paraquedas

Os tablóides da cidade anunciaram o vice do prefeito Arnaldinho Borgo, os tablóides.
Os tablóides da cidade anunciaram o vice do prefeito Arnaldinho Borgo.

Nos últimos dias, a corrida pela vaga de vice na chapa do atual prefeito de Vila Velha ganhou contornos mais “estreitos”, pelo menos é o que afirmou o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini, numa recente entrevista. A notícia se espalhou rapidamente, aumentando as especulações sobre o nome do ex-secretário de Planejamento do município, Carlos Aurélio Linhalis, o Cael.

Do lado do PSB, tudo indica que o martelo está batido em torno de Cael. Apesar disso, o prefeito, peça principal do tabuleiro, ainda não se manifestou, mantendo silêncio sobre todas as movimentações e forçando o mercado a analisar as diversas possibilidades. Afinal, há muita coisa em jogo nesse processo, principalmente para 2026, ano crucial para prefeitos bem avaliados.

Voltando a Vila Velha, antes de Cael Linhalis, havia o deputado federal Víctor Linhalis (Podemos), seu filho, que até 2020 era uma figura desconhecida para muitos no município. Naquele ano, o Dr. Victor conquistou a confiança do grupo do então candidato a prefeito Arnaldinho Borgo, compondo a chapa vencedora como vice. Em 2022, ele saiu de vez do “anonimato” ao ser eleito deputado federal, sendo o mais votado em Vila Velha. Com isso, Victor Linhalis, a cria do prefeito, ganhou musculatura para galgar voos maiores, um fator intrigante tanto para aliados que buscam mais espaço, quanto para a oposição, que ganha um novo concorrente.

Agora é a vez do pai, Carlos Aurélio Linhalis, que chegou à Prefeitura de Vila Velha em agosto de 2023, referendado pelo governador Renato Casagrande. Cael é formado em administração, trabalhou por 35 anos no sistema financeiro e já atuou como presidente da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), o que lhe confere um perfil mais técnico do que político. Obviamente, Cael é um nome bastante desconhecido e sem expressão política na cidade, fatores que podem causar ranhuras políticas e ter um custo que ainda não está claro.

Analisando o silêncio do prefeito Arnaldinho Borgo, alguns pontos ficaram evidentes:

01. SUPOSTA SUJEIÇÃO AO GOVERNO DO ESTADO: A confirmação do nome do vice-prefeito por meio de um agente político ligado ao governador do Estado, pode transparecer que Arnaldinho não vê problemas em sujeitar-se ao Palácio Anchieta, o que supostamente fragiliza o prefeito, principal interessado. Embora a parceria política entre Arnaldinho Borgo e Renato Casagrande tenha beneficiado a população com investimentos recordes na cidade, o preço político dessa engenharia deve ser questionado. Seria a indicação do vice, especificamente o nome de Cael? Conjecturando, o prefeito poderia solicitar uma lista de nomes indicados pelo partido do governador, mas a escolha teria que ser dele, mostrando que o controle e a batuta do processo está em suas mãos.

02. O PESO DO VICE NA ATUAL SITUAÇÃO DO PREFEITO: As últimas pesquisas mostraram uma boa avaliação do prefeito, indicando que sua reeleição estaria consolidada, caso as eleições fossem hoje. Então, qual o peso do vice na disputa? Não poderia o prefeito optar por alguém mais leal ao seu projeto, em vez de terceirizar essa decisão a outro partido? Por exemplo, o nome do presidente da Câmara de Vereadores, Bruno Lorenzutti, que desenhou todo esse projeto ao lado do prefeito e pacificou a maioria dos vereadores durante o mandato, não seria uma escolha mais próxima? Aliás, o vereador Bruno Lorenzutti é filiado ao MDB, partido do vice-governador Ricardo Ferraço, aliado de primeira linha do próprio Casagrande. A verdade é que Arnaldinho Borgo não depende de um nome na sua chapa como vice para se reeleger; ele precisa observar um princípio básico da articulação política: não perder o que já tem.

03. PROJETO 2026: Caso o nome de Carlos Aurélio Linhalis como vice se confirme, 2026 precisa ser reavaliado. Teria o prefeito uma relação política tão próxima com os Linhalis? Se sim, o problema está resolvido. Caso contrário, surge um novo desafio para suas futuras pretensões. Para chegar forte em 2026, Arnaldinho precisa ser reeleito, e o ideal seria uma vitória no primeiro turno, o que facilitaria sua intenção de disputar o governo do Estado. Mas quem seria o prefeito nos anos seguintes, um aliado ou um indicado? A balança do prefeito precisa estar bem ajustada para não queimar etapas e enfrentar dificuldades no futuro. Um aliado garante a lealdade necessária; um indicado pode comprometer o futuro do projeto.

Estamos diante de um novo cabo de guerra, um silêncio dentro das articulações, no qual a vontade de ambos precisa encontrar um caminho conciliador. A pressa pode ser um inimigo mortal, pois a política exige tempo e reflexão, envolvendo muitas pessoas e exigindo consensos.

Enfim, no salto das eleições de 2020 e 2022, o paraquedas abriu e Arnaldinho e Dr. Victor superaram seus adversários. Agora, a altitude é maior e as turbulências são diferentes.

O silêncio do prefeito é estratégico e o paraquedas dos apressados pode não abrir.

É natural de Vila Velha – ES, cidade onde reside. Graduado em Teologia e Ciências Políticas, com especialização em pesquisa, comunicação e estratégia política. Já atuou como secretário municipal de Gestão e Planejamento e como coordenador de comunicação parlamentar. Há quase duas décadas estuda e participa dos movimentos políticos do cenário nacional e do Estado do Espírito Santo, com análises e projeções.
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