Nos últimos meses, looks vintage tomaram completamente os tapetes de premiações e pré-estreias, com peças desfiladas em meados dos anos 90 marcando presença nas listas de celebridades mais bem vestidas da noite. Mais recentemente, quem chamou a atenção dos internautas foi a atriz Zendaya que, na premiére de seu novo filme Duna: Parte Dois, gracejou o tapete com uma armadura futurista Mugler, desfilada em 1995. Os looks fresquinhos da passarela, antes tão disputados por estilistas para seus clientes em temporadas de premiação, perderam os holofotes para essa nova direção da moda, a de olhar para o passado. Mas por que essa súbita mudança de perspectiva?

Jennifer Lawrence, Olivia Rodrigo e Margot Robbie vestindo acervos da Givenchy, Versace e Mugler, respectivamente. – Via: People.com

Essa nova onda de looks vintage em celebridades é muito fundada pela incessante busca por exclusividade; muitas das peças usadas nos eventos são únicas e ficam conservadas nos chamados “acervos” das marcas, espaços onde reservam todas as peças que compuseram a história e trajetória de tal. Isso faz com que a acessibilidade dessas roupas seja bem restrita e baseada em uma rede de pessoas para realizar o “pull ” (puxar) do look: o stylist precisa trabalhar com um time de “garimpeiros” e contatos internos na marca para que a peça possa ser vestida e tirada do acervo. Além da dificuldade na aquisição, o fator de exclusividade vem também pelo público; apenas espectadores muito antenados e historiadores da moda conseguem imediatamente apontar a origem decentária do look, trazendo um ar que “quem sabe, sabe” ao desfile nos tapetes vermelhos.

Jennifer Lawrence, Olivia Rodrigo e Margot Robbie vestindo acervos da Givenchy, Versace e Mugler, respectivamente. – Via: People.com

Mas não é apenas o trabalho do estilista Law Roach e Zendaya que vem chamando atenção aos amantes da moda, artistas como Margot Robbie, Jennifer Lawrence e Oliva Rodrigo também entraram nessa onda vintage e desfilaram nos tapetes do Grammy e do Oscar em componentes do acervo de Mugler, Givenchy e Versace.

Olivia, considerada uma das mais influentes vozes da Geração Z, também adotou essa trend em seu estilo do dia-a-dia: em um look que a rendeu manchetes, veste uma saia Todd Oldham, figurino de um dos momentos mais icônicos das passarelas dos anos 90, protagonizado pela supermodelo Shalom Harlow. As peças vintage são algo que vem crescendo entre as fashionistas da geração, e “garimpar” em brechós e incluí-las em seus looks casuais virou quase uma “regra” para um look com personalidade e que foge do básico.

Olivia Rodrigo vestindo blusa e saia do acervo de Todd Oldham – Via: Vogue.in

Essa tendência fez com que muitos novos negócios florescessem: antiquários, brechós – tanto físicos quanto online –, serviços de “garimpo” de peças vintage e eventos de compra e venda de roupas usadas vêm crescendo e surgindo cada vez mais, possibilitando à  amantes da moda a expansão de seu guarda-roupa e à donos de pequenos empreendimentos um crescimento em seu negócio. Plataformas de compra e venda como  Enjoei, Gringa.com e Repassa ganham muitos acessos e brechós e bazares agora ganham clientes frequentes, provocando um movimento de moda circular.

Outro impacto dessa trend foi no mercado de luxo: diversas marcas começaram a “repaginar” modelos antigos que fizeram sucesso entre os consumidores vintage, com um ar mais atual. Essas reedições tomaram as coleções das it girls do momento e bombaram  nas semanas de moda do ano passado; uma das que mais recebeu atenção foi a Horsebit Chain da Gucci que, inicialmente lançada em 1953, ganhou um relançamento 70 anos depois, virando queridinha de celebridades como Dakota Johnson, Dua Lipa e Kendall Jenner.

Dakota Johnson, Kendall Jenner e Dua Lipa usando a reedição da Gucci Horsebit Chain Purse – Via Vogue.co.uk

A crescente dessa tendência, além de adicionar uma nova faceta de styling e personalidade no estilo básico e cotidiano das fashionistas, possui impactos muito positivos para a economia – dado esse sucesso de negócios de moda vintage – e para o meio ambiente, visto que promove a moda circular e o reaproveitamento de peças antigas, lutando contra a onda de hiperconsumismo que vimos nos últimos anos. Combater o caráter voraz com que a indústria da moda nos incentiva a consumir com uma tendência cheia de excentricidade e um toque de nostalgia é o que torna essa onda vintage tão interessante e tão bem sucedida.