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Política em Foco

Política: 2026 passa por 2024

A confusa geopolítica capixaba pode congestionar a corrida eleitoral de 2026.
Toda geopolítica tem dia e hora para nascer e morrer, um ciclo constante e interminável.

Desde 2002, após a vitória de Paulo Hartung sobre Max Mauro para o governo, o Espírito Santo entrou numa nova era, com a construção da unanimidade política, onde a figura do governador ganhou traços emblemáticos, semelhantes aos antigos imperadores. O verniz ou a plataforma política da época era: “eu sou o candidato do Paulo”.

Essa postura desidratou a ala oposicionista, onde até mesmo o PT se rendeu aos encantos hartunguistas e ajudou a sustentar a retórica da reconstrução política e administrativa do Estado, com Paulo no Palácio Anchieta e Cláudio Vereza (PT) no comando da Assembleia Legislativa, uma parceria que ultrapassou o conceito de unanimidade e ganhou perfil pragmático, no qual não importa muito o caminho, e sim, a conquista e o resultado.

Perpassando o tempo, Paulo Hartung ainda governaria o Espírito Santo por dois mandatos (somando três), sendo sucedido por Renato Casagrande, que está no seu terceiro mandato à frente do Palácio Anchieta. Essa alternância entre eles mudou interesses e interessados e fragilizou algumas alianças, principalmente, depois do ressurgimento da direita, um desmonte claro da geopolítica iniciada em 2002. Assim, vários grupos nasceram e novos nomes ganharam forças, iniciando a grande corrida das vagas eletivas.

Estamos em 2024, ano de eleições municipais e, como de praxe, as costuras políticas estão a todo vapor. Na mesa estão várias possibilidades para o eleitor capixaba, inclusive as projeções para 2026 com as 30 vagas da Assembleia Legislativa, as 10 vagas para Câmara Federal, 02 vagas para o senado e 01 para o governador do Estado e para Presidente da República. Ou seja, muita coisa que nortear o pleito deste ano, norteará a disputa de 2026, abrindo um mar de possibilidades e interesses que não têm fim. Dependendo das decisões e dos resultados, os aliados de hoje serão os inimigos de amanhã e vice-versa.

Como lidar com esse cenário de perspectivas e como avaliar tantas possibilidades? Rapidamente, vamos analisar:

01. Líderes políticos bem avaliados: Diversos nomes ganharam musculatura e estão com avaliação positiva, como, por exemplo, os números das recentes pesquisas, que apontaram para a realidade dos gestores de duas importantes cidades da região metropolitana (Vila Velha e Cariacica), que estão a passos largos da reeleição, projetando seus respectivos nomes para voos maiores, caso mantenham o nível político e administrativo. Existe um velho jargão político: “Quem governa uma grande cidade, tem capacidade de governar um Estado”. Não podemos esquecer dos demais que estão espalhados nas outras instâncias do poder, nomes que cresceram com a polarização e com prestação de serviço a sociedade. Naturalmente, eles também querem mais espaço.

02. Herdeiros da Unanimidade: Nomes como do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) podem ser considerados como herdeiros do equilíbrio administrativo, iniciado em 2002. Ferraço tem a confiança do atual governador, tem um perfil que agrada vários setores e conhece como ninguém o preço pago para alcançar a atual estabilidade financeira e política. Contudo, vai precisar ter habilidade para conter os prodígios das últimas duas eleições, uma composição difícil, devido ao tamanho que ambos conquistaram. Sem falar que os acordos políticos estão cada vez mais fragilizados por vários fatores e interesses.

03. Fura Fila: Alguém se atreveria a furar a fila natural da política capixaba? As eleições estão cada vez mais midiáticas, com direito ao surgimento de fenômenos. Com campanhas técnicas e científicas, onde o sentimento do eleitor é monitorado de perto, as surpresas e novidades se repetem a cada pleito, trazendo para o universo político nomes até então desconhecidos. Não é nada inteligente subestimar qualquer nome e abraçar o assoberbado “já ganhou”. As disputas anteriores mostraram para muita gente calejada na política e que detinha mandato e a máquina na mão que a cabeça do eleitor é reativa e um campo de incertezas. Quem não teve a capacidade de ler e interpretar esse “novo momento” foi literalmente atropelado pela força do marketing estratégico. Nem tudo é dinheiro quando se têm habilidosos e impiedosos atiradores.

Portanto, a clichosa geopolítica capixaba deve receber cada vez mais “abalos sísmicos” e protagonizar disputas bastante acirradas; para quem acompanha, sabe que têm ciclos se fechando e outros iniciando. Por isso, acredito que as eleições municipais deste ano desenharão a essência das novas alianças políticas, uma articulação tão confusa que pode e deve congestionar a longa corrida de 2026.

Tem cacique se aposentando, tem índios novos chegando e poucos lugares na sombra do frondoso poder!

Weverton Santiago

É natural de Vila Velha – ES, cidade onde reside. Graduado em Teologia e Ciências Políticas, com especialização em pesquisa, comunicação e estratégia política. Já atuou como secretário municipal de Gestão e Planejamento e como coordenador de comunicação parlamentar. Há quase duas décadas estuda e participa dos movimentos políticos do cenário nacional e do Estado do Espírito Santo, com análises e projeções.
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