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Política em Foco

Política: Vitória 2024

A cidade que decide na última semana.
Boa parte do eleitorado da capital é analítico e bastante exigente.

Nas últimas três eleições para prefeito de Vitória, quem saiu na frente das pesquisas não levou a disputa. Em 2012, Luiz Paulo tinha 46% contra 20% de Luciano Rezende, que venceu a disputa. O mesmo aconteceu em 2016, Amaro Neto liderava com 33%, Luciano Rezende tinha 24%, ele novamente virou e venceu. Já em 2020, João Coser e Fabrício Gandini estavam empatados com 22% cada, contra apenas 10% de Pazolini, deu Pazolini, que agora tenta a reeleição.

Esses números não são regras, mas eles apontam que parte do eleitorado da capital adotou um perfil analítico e escatológico, deixando para os dias derradeiros a decisão em quem votar. Esse cenário mostra que o jogo em Vitória está no prelúdio das movimentações e que as recentes pesquisas são apenas retratos do hoje, e não o filme de amanhã, alimentando a possibilidade de ambos os pretendentes.

Diante deste breve esboço dos últimos 12 anos, o que se soma três eleições (2012, 2016 e 2020), vamos analisar as possibilidades e a realidade dos nomes que estão postos até o momento. São eles:

PAZOLINI (Republicanos): O atual prefeito não chegou com o tamanho desejado para o pleito deste ano. Apesar dos números favoráveis das recentes pesquisas, não existe seguridade quando o assunto é eleição, principalmente, quando estamos tratando de uma cidade que tem o perfil de decidir nos últimos dias, mostrando que o eleitor da capital é volátil e pode contrariar os números iniciais. Obviamente, estamos falando de quem tem o poder da máquina, grupo formado e o poder administrativo na mão, no entanto, muitos fatores podem influenciar e mudar os números da disputa. Primeiramente, a luta do prefeito consiste em manter o que já tem e avançar sobre seus adversários para ultrapassar o teto seguro para reeleição.

JOÃO COSER (PT): Ex-prefeito e atual deputado estadual, ele conta com alto recall do eleitorado de Vitória. Em 2020, obteve 41,5% no segundo turno, número que deve ser observado e respeitado por todos seus adversários, pois mostra que ainda tem força dentro do processo. O cenário também é outro, hoje o presidente da república é seu correligionário histórico de partido. Porém, isso pode ser um fator positivo e também negativo, porque coloca João Coser no centro da convulsão da polarização entre a esquerda e a direita. Certamente, seus adversários usarão e abusarão das pretéritas antíteses, ligando a imagem de Coser aos eventos de grande repercussão que varreram o Partido dos Trabalhadores nos últimos pleitos, uma ferida que está em franco processo de cicatrização. Uma coisa podemos afirmar: João Coser é competitivo, está no jogo e sabe jogar.

LUIZ PAULO (PSDB): Com justa fama de gestor competente, Luiz Paulo é figura conhecida na capital. Com dois mandatos de prefeito no currículo (2001/2008), ninguém pode subestimar o alcance do notório peessedebista, que tem laços estreitos com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Desde que deixou a prefeitura da capital, Luiz Paulo não conquistou outro mandato eletivo, um hiato de quase 16 anos, resultando no possível esquecimento dos seus importantes feitos, como o “Projeto Terra”, um programa que redesenhou e valorizou as regiões periféricas da cidade de Vitória. Muitos afirmam que o eleitorado de Luiz Paulo envelheceu e a juventude não o conhece, realidade que não ajuda suas pretensões e dificulta a memória do eleitor. O tamanho de Luiz Paulo pode ser uma incógnita para quem chegou ou uma ciência exata para quem passou, o eleitor deve decidir.

FABRÍCIO GANDINI (PSD): O calcanhar de Aquiles da atual administração na região de Jardim Camburi, Gandini já provou que é um grande articulador, competitivo e que ainda pode surpreender aqueles que subestimam seu potencial e alcance. Alguns duvidam da sua candidatura, mas ninguém deve duvidar que ele é uma peça muito importante no indefinido tabuleiro político da capital. Gandini tem mandato, tem grupo e tem penetração no maior colégio eleitoral da cidade. Atualmente, preside a Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, pauta que deve ganhar força nos debates, devido às trágicas chuvas e os constantes alagamentos. Certamente, o Gandini de hoje não tem o mesmo tamanho do Gandini de 2020, mas ele continua sendo o cordial e imprevisível Gandini.

CAPITÃO ASSUMÇÃO (PL): O pré-candidato do Partido Liberal (PL) a prefeito de Vitória aposta nas pautas conservadoras da direita, algumas consideradas extremas. Em 2020, ele ficou em quarto lugar com 12.365 votos (7,22%), não conseguindo convencer o eleitorado bolsonarista da capital. Os últimos episódios envolvendo sua prisão e as restrições impostas pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes podem construir novas possibilidades em torno do seu nome, vai depender da estratégia adotada e da leitura do momento, vítima ou culpado. Lembrando que a direita é maioria na capital, mas não é unânime.

DU (AVANTE): Conhecido no universo político capixaba como Du Kawasaki, Eduardo Spadetto Ramlow pode ser um elemento surpresa na próxima eleição de Vitória. As informações apuradas dão indícios que sua candidatura é real e já tem time formado, contando com nomes experientes, que trabalharam em campanhas grandes e vitoriosas. Considerado um gestor competente e arrojado em seus negócios, o pré-candidato do Partido Avante quer trazer todo seu norall para a política. Segundo informações, Du Kawasaki foi cortejado para compor como vice por quase todas as chapas, mas as incertezas do processo podem ter levado a acreditar na sua capacidade de construir caminhos que otimizem seu nome e suas pretensões. Uma coisa é certa: As eleições municipais têm ganhado páginas com histórias fenomenais. Du ou Du Kawasaki tem história e quer acelerar forte daqui pra frente!

SÉRGIO MAJESKI (PDT): Missão difícil do ex-deputado e promissor Sérgio Majeski. Após o resultado das eleições de 2022, onde os 40.124 votos não foram suficientes para assegurar uma vaga na Câmara Federal, Majeski vem recalculando sua rota e buscando sobreviver sem mandato. Com perfil técnico e com boa penetração com a pauta da educação, um caminho setorizado e que não ajuda muito quem não tem mandato, Majeski pode ser opção para parte do eleitorado de Vitória. Entretanto, a falta de grupo é um enorme empecilho que precisa ser corrigido rapidamente. Com histórico de dois mandatos bem avaliados na Assembleia Legislativa, o pedetista tem uma árdua tarefa: vencer o isolamento e correr contra o tempo.

CAMILA VALADÃO (PSOL): Deputada estadual mais votada da história do Espírito Santo (52.221 votos), a carismática representante da esquerda capixaba já mostrou que é boa de briga e muito persistente. Camila preside a comissão de Direitos Humanos da Assembleia, tem pautas segmentadas e ligadas aos movimentos sociais, como o MST (Movimento Sem Terra), bandeiras que tem bastante aderência com os segmentos de esquerda, público disputado por outro forte representante da esquerda: o petista João Coser. Assim como o capitão Assumção, Camila está no meio da polarização, um extremo que pode não ajudar na decisão do eleitor da capital. Muitos apostavam na dobradinha entre o PT e Psol, mas os psolistas bateram o pé e parecem estar convictos, sustentando o nome de Camila Valadão. Vai ter luta!

CAPITÃ ESTÉFANE (PODEMOS): “A Capitã será candidata em Vitória mesmo sem coligação”. Essas foram as palavras categóricas do deputado federal Gilson Daniel, presidente estadual do Podemos, no último dia 23, quando se encerrou o prazo de filiação partidária para quem vai disputar as eleições deste ano. A militar e atual vice-prefeita de Vitória, Estéfane, não tem participação na gestão de Pazolini. Ela acusa o prefeito de silenciá-la desde o início do mandato. Um caso bastante polêmico aconteceu no dia 09 de novembro de 2022, num evento em Jardim Camburi. Na ocasião, a prefeitura apresentou um projeto para a construção de uma nova casa de convivência para a pessoa idosa. No momento da fala da vice-prefeita, o prefeito tomou o microfone das suas mãos, causando um mal-estar quase que generalizado, que ganhou as páginas e os noticiários dos principais jornais, marcando o rompimento definitivo entre eles. Voltando a realidade da sua pré-candidatura, ela e Gilson Daniel sabem que não será nada fácil sustentar o projeto e seguir com o objetivo. A capitã, acostumada a apagar vários incêndios, pode se tornar o “fogo estranho” do pleito. Missão dura e complicada.

Essas são as primeiras movimentações da longa corrida para prefeitura de Vitória, um ensaio do que virá pela frente. Os números das pesquisas podem parecer que os nichos já estão ocupados e tomados por grupos diferentes, ainda assim, é primordial combinar com o exigente eleitor da capital, sobretudo, com a grande parcela que tem surpreendido e contrariado a obviedade dos cálculos.

A eleição de 2024 pode romper um ciclo de reeleição ou pode chancelar o continuísmo político e administrativo. Os números iniciais parecem não assustar quem está no poder, todavia, eles estão bem longe de serem considerados confortáveis para A ou para B.

Enfim, desde 2012, o resultado das eleições de Vitória é refém dos últimos dias e do escatológico eleitor!

Weverton Santiago

É natural de Vila Velha – ES, cidade onde reside. Graduado em Teologia e Ciências Políticas, com especialização em pesquisa, comunicação e estratégia política. Já atuou como secretário municipal de Gestão e Planejamento e como coordenador de comunicação parlamentar. Há quase duas décadas estuda e participa dos movimentos políticos do cenário nacional e do Estado do Espírito Santo, com análises e projeções.
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