De cada cinco pessoas no mundo, uma terá câncer até os 75 anos. Com esse dado da Organização Mundial da Saúde (OMS), o oncologista Vitor Fiorin abriu sua apresentação na Tribuna Popular realizada na manhã desta quarta-feira (1º), durante a sessão ordinária. “Isso no Brasil não é diferente, ao longo das décadas observa-se um número crescente de casos diagnosticados no nosso país”, afirmou o médico.
De acordo com o especialista, o Brasil deverá registrar um total aproximado de 700 mil casos da doença em 2023. “Em 2029, ou seja, daqui a pouco, o câncer vai ser a doença que mais vai matar no Brasil. A gente melhorou o tratamento para o infarto, para o AVC (acidente vascular cerebral), mas o câncer a gente ainda precisa melhorar bastante”, alertou.
O convidado chamou a atenção também para o valor gasto anualmente com o tratamento da doença e questionou se esse recurso é bem empregado. “São bilhões de reais, estima-se que de 3% a 6% do orçamento brasileiro é gasto no combate ao câncer. (…) A gente precisa não só dar diagnóstico, mas também diagnosticar precocemente esse tipo de tumor. Porque isso salva vidas e isso poupa recursos da União, do Estado e dos municípios”, avaliou Fiorin.
O aumento de casos diagnosticados em pessoas jovens preocupa o médico. De acordo com a OMS, de 1990 a 2019 cresceu em 79% a incidência da doença em pessoas com menos de 50 anos. Já o número de mortos nessa faixa etária subiu 29% no período. “A realidade que mais aumenta no mundo é essa. São pacientes jovens, com menos de 50 anos, diagnosticados com câncer”, lamentou.
Fiorin é um dos coordenadores, no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), do projeto “Cicatriz Mínima”. O objetivo é realizar cirurgias menos invasivas para pacientes com câncer no sistema digestivo (estômago, fígado, pâncreas, reto, intestino e esôfago).
“É um projeto que se dedica a não fazer mais cirurgias abertas. Antigamente o cirurgião ficava famoso conforme o tamanho da cicatriz, e eram cicatrizes grandes. Hoje, o Hospital das Clínicas é o único serviço no Espírito Santo que faz cirurgia bariátrica por vídeo, por exemplo. A nossa intenção é fazer cirurgia de câncer por vídeo, com a menor cicatriz possível. Porque o câncer, por si só, já é uma grande cicatriz”, explicou.
O oncologista Vitor Fiorin foi convidado para participar da Tribuna Popular por indicação do deputado Delegado Danilo Bahiense (PL).
Oficinas literárias
A segunda convidada da Tribuna Popular foi a escritora Kátia Fialho, uma das idealizadoras do projeto que resultou no livro “Elas por elas: um lugar de (e que) fala”. A obra mostra os talentos literários de mulheres privadas de liberdade. No último mês de março, a escritora, junto da jornalista Elaine Dalgobo, mediaram oficinas literárias para 20 internas do Centro Penitenciário de Cariacica, localizado no bairro Bubu. “Nos proporcionaram ricos momentos de troca de afeto”, confidenciou.
A escritora falou sobre a situação de abandono que é imposto a essas mulheres. “Invisíveis e esquecidas pela sociedade, as mulheres em privação de liberdade, que em sua grande maioria são condenadas não apenas pela justiça, mas também sofrem com o julgamento moral da sociedade e, não raro, são abandonadas por suas famílias”, lamentou a convidada.
“Esse projeto acabou por se tornar um instrumento de produção de sentido para essas mulheres, que viram, na leitura e na escrita, a possibilidade de resignificar suas vidas e encontrar um caminho possível pela ressocialização através da literatura”, afirmou a escritora.
A convidada contou que, após as oficinas, as participantes se dedicaram à produção de crônicas, que integrou o escopo do projeto, dando vida ao livro “Elas por Elas: um lugar de (e que) fala”. A obra foi lançada em outubro, no Palácio da Cultura Sônia Cabral.
A proponente da pauta foi a deputada Camila Valadão (Psol), que endossou as palavras da convidada. “Medidas como essa contribuem para o processo de ressocialização. Eu destaco aqui as mulheres que estão no âmbito do sistema prisional, muitas delas abandonadas por familiares, companheiros, filhos, e que o exercício da leitura, o exercício da escrita, é um exercício de reencontro, de reflexão e também de construção de um novo caminho”, opinou a parlamentar.